domingo, 13 de março de 2022

Felicidade: grande demais pra uma pessoa só

 




Vou te contar, os olhos já não podem ver

Coisas que só o coração pode entender

Fundamental é mesmo o amor

É impossível ser feliz sozinho 


Antônio Carlos Jobim 


Depois de uma semana muito produtiva, em que tudo parecia dar certo (“e viu que era bom, e viu que era bom, e viu que era MUITO bom”), o próprio Deus Criador se deparou, pela primeira vez nas Escrituras, com algo que NÃO ERA BOM. E, detalhe, ANTES do pecado entrar no mundo. Tudo isso aconteceu nos primeiros dois capítulos do livro de Gênesis, e o que Deus taxou de “não bom” era a solidão do primeiro Homem. “Não é bom que o homem esteja só”, afirma o Pai em Gênesis 2:18. É importante lembrar que a solidão não foi uma criação de Satanás, e incidia sobre alguém sem pecado, que morava no paraíso e tinha comunhão direta com Deus. AINDA ASSIM, não estava bom. E por que não? O fato incontornável que precisamos encarar é que, embora Deus não tenha criado o Homem com um “defeito de fábrica”, Ele o fez com uma limitação: a incapacidade de ser feliz sozinho. 

Não estamos falando de casamento, claro, porque o apóstolo Paulo deixa claro na sua primeira carta aos coríntios que o casamento não é obrigatório para a felicidade de ninguém. Mas ter comunhão com outras pessoas, compartilhar a vida com o próximo, são coisas que parecem ser fundamentais para uma vida com satisfação nessa terra. 

Veja o que Salomão, o “homem mais sábio da história”, fala sobre a importância de se buscar o bem do outro: “O solitário busca o seu próprio interesse e insurge-se contra a verdadeira sabedoria” - Provérbios 18:1. Até a sabedoria, que, por preconceito, muitas vezes julgamos ser própria das pessoas solitárias, normalmente cercadas por livros e não por outras pessoas, até mesmo a Sabedoria bíblica só pode ser alcançada levando o próximo em consideração. A conclusão é que a pessoa solitária é assim por egoísmo, por não buscar a proximidade de alguém ou não permitir que outros se aproximem, e o resultado, infelizmente, é a perda da verdadeira sabedoria, por priorizar objetivos egoístas.

O mesmo Salomão, em Eclesiastes (livro em que ele registra sua busca pela FELICIDADE, fazendo diversas tentativas de encontrá-la, seja pelo conhecimento, pela fama, pelo poder, pelas riquezas e, por fim, no sexo e nas drogas), deixa claro que a satisfação só pode estar em algum lugar onde nos relacionamos com outras pessoas. Ele começa dando o exemplo de um homem totalmente sozinho, que trabalha arduamente vivendo uma vida sem sentido: “Descobri ainda outra situação absurda debaixo do sol: Havia um homem totalmente solitário; não tinha filho nem irmão. Trabalhava sem parar! Contudo, os seus olhos não se satisfaziam com a sua riqueza. Ele sequer perguntava: ‘Para quem estou trabalhando tanto, e por que razão deixo de me divertir?’ Isso também é absurdo. É um trabalho muito ingrato!” - Eclesiastes 4:7,8 

Após o exemplo do absurdo, ele nos brinda com um exemplo de sensatez, que está justamente no compartilhar alegrias e tristezas: “É melhor ter companhia do que estar sozinho, porque maior é a recompensa do trabalho de duas pessoas. Se um cair, o amigo pode ajudá-lo a levantar-se. Mas pobre do homem que cai e não tem quem o ajude a levantar-se! E se dois dormirem juntos, vão manter-se aquecidos. Como, porém, manter-se aquecido sozinho? Um homem sozinho pode ser vencido, mas dois conseguem defender-se. Um cordão de três dobras não se rompe com facilidade”. - Eclesiastes 4:9-12 

Ao final do livro de Eclesiastes, ficamos com a sensação de que Salomão não conseguiu concluir sua busca pela definição do que é felicidade e de como alcançá-la. Mas PELO MENOS UMA COISA ele descobriu: “é melhor serem dois do que um”.

Chegamos a Jesus, e Ele nos reforça essa verdade, na reveladora parábola do “fazendeiro rico”. Motivado por uma questão familiar (dois irmãos que estavam brigados por causa de uma herança), Jesus deixa claro que a felicidade não pode estar no dinheiro acumulado. 

“Então lhes disse: ‘Cuidado! Fiquem de sobreaviso contra todo tipo de ganância; a vida de um homem não consiste na quantidade dos seus bens’. Então lhes contou esta parábola: ‘A terra de certo homem rico produziu muito bem. Ele pensou consigo mesmo: “O que vou fazer? Não tenho onde armazenar minha colheita”. Então disse: “Já sei o que vou fazer. Vou derrubar os meus celeiros e construir outros maiores, e ali guardarei toda a minha safra e todos os meus bens. E direi a mim mesmo: ‘Você tem grande quantidade de bens, armazenados para muitos anos. Descanse, coma, beba e alegre-se’”. Contudo, Deus lhe disse: ‘Insensato! Esta mesma noite a sua vida lhe será exigida. Então, quem ficará com o que você preparou?’ Assim acontece com quem guarda para si riquezas, mas não é rico para com Deus’". -Lucas 12:15-21

Jesus deixa claro que a riqueza daquele homem não lhe traria a felicidade e a segurança desejadas, e que mais importante do que acumular bens era ser rico para com Deus. E isso, em toda a Bíblia, só pode ser conseguido através de relacionamento com pessoas. É isso que João, em sua primeira carta, declara ousadamente: “Se alguém afirmar: ‘Eu amo a Deus’, mas odiar seu irmão, é mentiroso, pois quem não ama seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê” (1 João 4:20). Para os irmãos que deixaram de se relacionar por causa de uma herança, o recado de Jesus era claro: existem coisas mais importantes do que dinheiro.

Se o Homem foi então criado com essa “limitação”, dependendo dos outros para ser completo, onde então a Bíblia nos diz que pode estar a felicidade? A verdade é que ela não habita em nós mesmos, mas pode ser encontrada no nosso relacionamento com os outros: “Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram” - Romanos 12:15. Existe uma maneira bíblica de se alegrar, e ela está em como conseguimos ficar felizes pela felicidade alheia. Mas veja que isso não é como quando torcemos pelo sucesso de alguém distante, como um ator ou um jogador de futebol. O apóstolo Paulo, nessa passagem, está falando do relacionamento entre irmãos da mesma igreja. (Sabia que às vezes é mais fácil se compadecer ou comemorar com alguém que está longe do que com alguém muito próximo, mesmo que seja um vizinho, um irmão, uma esposa?) Veja, o texto não está falando de empatia, mas de uma coisa mais necessária: relacionamento interpessoal. É por isso que Paulo fala sobre se alegrar e sobre chorar. Porque, quando nos abrimos para uma verdadeira comunhão com alguém, quando nos aproximamos a ponto de compartilhar alegrias e tristezas, então é nesse momento em que podemos de fato experimentar a alegria genuína de estar feliz por alguém, mas também a tristeza profunda de se compadecer daquela pessoa que você ama.

É por isso que Paulo, citando Jesus, afirma: “Há maior felicidade em dar do que em receber” (Atos 20:35). Se a nossa felicidade está no outro, e não em nós mesmos, fica fácil entender essa afirmação. Quando damos mudamos a vida de alguém pra melhor, nem que seja um pouco, e isso é mais satisfatório do que qualquer coisa que alguém possa nos dar. 

“Não tenho alegria maior do que ouvir que meus filhos estão andando na verdade” (3 João 1:4). Essa afirmação de João faz todo o sentido agora, não faz? Se a nossa alegria está no próximo, qual poderia ser uma alegria maior do que levar alguém pra Cristo (fazendo dela um filho) e perceber que ela está firme nessa Verdade, que pode salvá-la para a Eternidade? Prioridades, prioridades. Qual tem sido a sua?

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