quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

É BONITINHO, MAS NÃO É BÍBLICO (Parte I) - “Deus não une pessoas, Ele une propósitos”





É BONITINHO, MAS NÃO É BÍBLICO (Parte I)

“Deus não une pessoas, Ele une propósitos”

A afirmação acima, embora muito popular no meio evangélico (principalmente em celebrações de casamentos) carece de uma base bíblica adequada. De fato, ela vai frontalmente contra algo que o próprio Jesus falou: “Portanto, o que Deus uniu, ninguém o separe" (Mateus 19:6).

Jesus, neste caso, não está falando sobre uma união de propósitos, mas de pessoas, o que fica claro nos versículos anteriores: “Vocês não leram que, no princípio, o Criador ‘os fez homem e mulher’ e disse: ‘Por essa razão, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois se tornarão uma só carne’? Assim, eles já não são dois, mas sim uma só carne” (Mateus 19:4-6). Quando Jesus fala sobre essa união feita por Deus, ele está falando, então, sobre o bom e velho casamento, ou seja, duas pessoas que se unem pelos laços do matrimônio.

Mas, mesmo quando entendemos que o casamento bíblico é a união de dois seres humanos que se amam, e não de dois propósitos que coincidem, essa afirmação de Jesus pode nos levar a outro tipo de erro, no caso, a ideia de que Deus tem o costume de arbitrar sobre a vida sentimental de Seus filhos, unindo aqueles que Ele considera compatíveis: a antiga ideia da “alma gêmea”, descrita por Platão no “Banquete” e aceita, mesmo que não oficialmente, por seguidores de várias religiões, inclusive cristãos. A romântica e agradável ideia da “tampa da panela”, o pensamento reconfortante de que Deus está nos “preparando alguém”, embora possa servir de consolo para aqueles que estão esperando a chegada da “pessoa amada”, também carece de base bíblica.

Mas, você pode questionar, Jesus não havia dito que “Deus uniu”? Sim, mas ele baseia seu argumento no livro de Gênesis, citando o trecho “o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e eles se tornarão uma só carne” (Gênesis 2:24). Note que quem “deixa pai e mãe e se une à mulher” é o homem. Ele “escolhe” fazer essas coisas. O que Jesus está dizendo é que, ao fazer sua escolha na terra, a mesma é ratificada, por Deus, no céu. Essa, embora possa parecer uma afirmação estranha a princípio, bate com aquilo que Jesus ensinou a respeito da concordância: “Em verdade vos digo: Tudo quanto ligardes na terra será ligado no céu; e tudo quanto desligardes na terra será desligado no céu. Ainda vos digo mais: Se dois de vós na terra concordarem acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por meu Pai, que está nos céus” (Mateus 18:18,19).

Que fantástico! Deus aprova o casamento e o considera consumado a partir da concordância do casal, na terra. O casamento é, assim, o resultado de uma escolha humana, que é ratificado espiritualmente por Deus. “Mas, será que Deus já não tem alguém preparado pra mim?”, você poderia questionar. Esse conceito, embora pareça espiritual, não tem bases bíblicas fortes, principalmente no Novo Testamento. No Velho Testamento temos UMA situação em que Deus claramente ajudou uma pessoa a encontrar uma esposa: no caso, Isaque, cuja mulher, Rebeca, foi trazida de longe, de sua parentela, através da ação de Jeová, que orientou o servo de Abraão a encontrar os parentes desse último e sua futura nora. Mas, mesmo neste caso, percebemos que a vontade de Rebeca foi necessária para que o casamento acontecesse: “Chamaram, pois, a Rebeca, e lhe perguntaram: ‘Irás tu com este homem?’; Respondeu ela: 'Irei'” (Gênesis 24:58). Deus agiu no sentido de encontrar a parentela de Abraão, mas o casamento seria resultado da vontade dos noivos, como esclareceu o próprio Abraão: “Se a mulher, porém, não quiser seguir-te, serás livre deste meu juramento; somente não farás meu filho tornar para lá” (Gênesis 24:8).

Mas, hoje, vivemos no e de acordo com o Novo Testamento. E o que ele diz sobre casamento? A orientação que o apóstolo Paulo (aquele que não era casado e, ainda assim, era completo e satisfeito, contrariando esse outro pensamento enraizado na cultura evangélica, de que as pessoas precisam casar para serem felizes) dá para as viúvas que desejam se casar vale para qualquer um que esteja procurando um companheiro de vida: “A mulher está ligada a seu marido enquanto ele viver. Mas, se o seu marido morrer, ela estará livre para se casar com quem quiser, contanto que ele pertença ao Senhor” (I Coríntios 7:39). Que maravilha! A mulher deve se casar com quem QUISER! “Mas não é com quem o Espírito indicar, ou o pastor, ou o profeta”? Não, é com quem a gente QUISER. Quantos sofrimentos teriam sido evitados ao Corpo de Cristo se essa simples orientação tivesse sido obedecida. Podemos casar com quem quisermos, desde que ambos compartilhem da mesma fé (por motivos óbvios). Quão libertadora é essa palavra!

“Mas, se não existe essa tal pessoa certa pra mim, como saber se o meu casamento vai dar certo?” Uma boa resposta talvez seja essa: “um casamento não ‘dá certo’, NÓS fazemos ele dar certo”. Com ajuda de Deus, é claro. É como se o casamento fosse uma casa, que o casal constrói. O material de construção, eles escolhem. Alguns o fazem com o que aprenderam dos pais, de pessoas que respeitam, de livros que leram, de conselhos de amigos, daquilo que viram nos filmes e nas novelas. O material, sendo de boa ou baixa qualidade, é o que eles terão pra trabalhar. Mas todos sabemos que, mesmo que o material seja bom, ele sozinho não faz uma habitação. É o trabalho duro que levanta a construção. O casamento é muito parecido com essa ilustração. É um trabalho diário, e que aos poucos vai se tornando uma casa. Uma casa pode ser até bonita (exigiu muito esforço), mas, se não foi feita com material de qualidade, não resistirá ao tempo e acabará apresentando rachaduras, podendo até cair. Já uma casa pode ser feita com bom material e mesmo assim não crescer, caso não haja esforço envolvido, e poderá se tornar apenas uma quitinete, resistente, mas sem grandes atrativos. Nós, que somos casados e cristãos, temos a faca e o queijo na mão. Podemos escolher o melhor material (a Palavra de Deus), rejeitar o material de segunda, e botarmos a mão na massa para fazermos para nós mesmos uma mansão onde poderemos passar os melhores dias de nossas vidas. Cada esforço, cada perdão, cada palavra de consolo, carinho e ânimo se tornarão tijolos que, aos poucos, farão de nossos casamentos empreendimentos de sucesso. Nenhum casamento é algo “feito”, ele é sempre um processo. É onde a matemática de Deus mostra o quanto é maravilhosa e surpreendente: um mais um, no casamento, é igual a um, mas também é três, quando Jesus afirma que “onde se reunirem dois ou três em meu nome, ali eu estou no meio deles" (Mateus 18:20).




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