terça-feira, 12 de maio de 2020

Pastores podem pegar o coronavírus? Mas e a fé?




Não sei você, mas eu fiquei um pouco confuso ao ouvir notícias sobre alguns pastores que negavam os perigos do COVID-19, não tomaram os cuidados necessários (mesmo indo contra as recomendações governamentais) e acabaram morrendo, vítimas justamente do coronavírus. Achei estranho porque acredito na cura e na fé, e o que aconteceu com esses queridos irmãos parece ir contra os princípios que aprendemos sobre como colocar a fé em prática. Afinal, eles (1) confessaram (“esse vírus não é de nada”, “não vou pegar”, “essa doença não existe”) e (2) tiveram atitudes correspondentes (se expuseram ao contágio). O que aconteceu nesses casos? Por que a fé não funcionou para esses ministros cristãos que, afinal, estavam apenas pregando a Palavra e evangelizando?

Vamos voltar alguns anos atrás, para a viagem feita pelo apóstolo Paulo para a cidade de Roma, onde compareceria, como prisioneiro, perante César. Conforme nos relata o livro de Atos, antes de embarcar no navio, uma palavra veio a Paulo, de que a viagem seria “desastrosa e acarretará grande prejuízo para o navio, para a carga e também para as nossas vidas”. O centurião, mesmo ouvindo a advertência de Paulo, preferiu “seguir o conselho do piloto” e o resultado foi, como Paulo havia previsto, desastroso. A vida de Paulo foi salva porque havia uma necessidade de que ele “comparecesse perante César”, e a graça de Deus fez o restante, poupando a vida de todos os outros embarcados, mas o saldo final da viagem foi a perda da carga e do próprio navio. Uma dúvida que eu sempre tive, e que imagino possa ser a de outras pessoas também, é a seguinte: “Por que não Paulo não repreendeu a tempestade?” Afinal, ele era seguidor de Jesus, que havia acalmado a chuva e o vento em mais de uma ocasião. Além disso, quando realizava esses feitos, Ele deixava bem claro que era a fé que permitia esse tipo de intervenção na natureza, e que os discípulos podiam fazer o mesmo, se não fossem tímidos. Se é assim, porque Paulo não repreendeu a tempestade, mesmo possuindo tanta fé e ousadia?

Para encontrar a resposta, devemos voltar ainda mais no tempo, e dar uma boa olhada na vida de Jesus. Antes de dar início ao seu ministério, o Mestre foi tentado pelo diabo para que saltasse do alto do templo, baseado em um trecho do Velho Testamento: “Ele dará ordens a seus anjos a seu respeito, e com as mãos eles o segurarão, para que você não tropece em alguma pedra”. A resposta de Jesus também foi um trecho das Escrituras: “Não ponha à prova o Senhor, o seu Deus”. O que Jesus entendeu naquele dia foi que colocar-se em uma situação de perigo espontaneamente, esperando que Deus o salvasse, seria uma afronta, ou seja, uma maneira de “pressionar Deus” a fazer algo. Foi por isso que Jesus recusou, vencendo assim a tentação apresentada.

A situação de Paulo foi semelhante. Existia uma palavra de alerta bastante clara, de que eles não deveriam navegar naquelas condições. Mesmo informados disso, os responsáveis pelo navio preferiram seguir sua própria vontade, ignorando o alerta divino e se colocando em uma posição de risco. Em uma situação do tipo, a oração da fé poderia funcionar para repreender a chuva e os ventos, mesmo quando todo o problema teria sido evitado apenas ouvindo o Espírito? Provavelmente não, tanto é que, no relato, não vemos Paulo nem tentando usar sua fé nesse sentido.

Chegamos nos dias atuais, e nos pastores vítimas da COVID. A exposição voluntária ao vírus não seria, também, uma maneira de “tentar” a Deus? Como se eles dissessem: “Vou fazer do meu jeito, e Deus vai me proteger”? Talvez a grande lição de tudo isso seja que a fé não se resuma a apenas “confessar e agir de acordo”. A fé bíblica, a fé que nos salvou e que nos permite vencer o mundo, é uma fé baseada nas Escrituras, uma fé que “vem pelo ouvir, e ouvir a Palavra de Deus”. É uma fé que não pode funcionar quando exercida em desacordo com os princípios bíblicos. Não pode ser exercida em rebeldia, por exemplo. Ignorar os avisos das autoridades, médicas e governamentais, não é fé, é teimosia e rebeldia. A Fé não é uma fórmula mágica, uma receita de bolo, um passo-a-passo. A fé é um estilo de vida, que passa pela submissão à Palavra de Deus, e que opera pelo Amor. Ignorar isso é querer que a fé seja algo que ela não é, é as consequências podem ser desastrosas, como a Bíblia sempre ensinou, e a História insiste em confirmar.

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